Ascrianças que vivem mais próximas de espaços verdes, como parques e jardins públicos, apresentam um melhor desempenho cognitivo, aos 10 anos de idade. A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) que procurou compreender qual a importância da exposição a espaços verdes e azuis (mar e rios) no desenvolvimento cognitivo das crianças.
Vários artigos têm já demonstrado que o contacto com a natureza pode ter um importante papel no desenvolvimento cognitivo, muito provavelmente por os espaços naturais estarem associados a níveis mais baixos de stress e de poluição e a uma maior socialização e prática de atividade física.
No entanto, nenhum estudo tinha, até à data da publicação do artigo do ISPUP, considerado o papel da exposição a espaços azuis na inteligência das crianças e incluído na sua análise uma grande variedade de indicadores de exposição a espaços verdes (jardins, parques, vegetação) ao longo da vida.
“Com este trabalho, viemos colmatar algumas lacunas existentes na literatura sobre esta associação”, explica Diogo Almeida, primeiro autor do artigo, publicado na revista Science of the Total Environment, e coordenado pela investigadora do ISPUP, Ana Isabel Ribeiro, fundadora e coordenadora do laboratório Saúde e Território, do Laboratório associado para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional (ITR), coordenado pelo ISPUP.
Para avaliarem se existia uma relação entre os espaços verdes e azuis e a inteligência das crianças aos 10 anos de idade, os autores realizaram um estudo longitudinal que incluiu 3827 crianças portuguesas, residentes na Área Metropolitana do Porto, e participantes na coorte do ISPUP, Geração XXI.
Os investigadores mediram a densidade de vegetação usando imagens de satélite e a distância pedestre da residência e da escola destas crianças aos espaços verdes urbanos e aos espaços azuis circundantes, ao longo do tempo – no momento em que as crianças nasceram e quando estas completaram 4, 7 e 10 anos de idade.
O quociente de inteligência (QI) dos participantes foi medido aos 10 anos, usando o índice de inteligência Wechsler.
E o que se concluiu? Verificou-se que as crianças que viviam a uma distância de até 800 metros de espaços verdes públicos, como parques e jardins, apresentaram um maior QI aos 10 anos.
Os autores não encontraram uma associação entre a inteligência e a exposição a espaços azuis.
Para Diogo Almeida, “este estudo veio reforçar a importância dos espaços verdes no desenvolvimento cognitivo das crianças. Seria importante que, em termos de planeamento urbano, se considerasse melhorar a disponibilidade de espaços verdes, sobretudo perto das áreas residenciais. Tal poderia beneficiar a inteligência das crianças e refletir-se em adultos mais saudáveis e mais competentes”.
A investigação, designada Residential and school green and blue spaces and intelligence in children: The Generation XXI birth cohort, na qual participou também Henrique Barros, do ISPUP, foi desenvolvida no âmbito da coorte Geração XXI e ao abrigo do projeto EXALAR XXI, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, e por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Imagem: Unspalsh/Markus Spiske